Sem amor não há viver.
A Rosa do Adro, pois era ela que, segundo o seu costume, trabalhava, junto da janela, embalsamando de contínuo os ares com a fragância dos seus cantos, ao ouvir resposta tão adequada e proferida por voz para ela estranha, debruçou-se um pouco sobre o peitoril, e, ao avistar Fernando, que caminhava risonho para aquele sítio, soltou uma desenvolta gargalhada, exclamando ao mesmo tempo:
- O Sr. Fernandinho... Ora esta!
- Eu mesmo, minha flor; pensas que só tu sabes coisas bonitas?
Fernando chegara em frente da janela, sobre a qual se reclinava a alegre rapariga, e, levando graciosamente a mão à aba do chapéu, continuou:
- Boas-tardes, Rosa.
- Salve-o Deus, Sr. Fernandinho - respondeu ela.
- Então que tal achas as minhas cantigas?
- Oh, muito lindas, muito lindas; estava quase capaz de o desafiar para a primeira esfolhada que por cá houvesse.
- E eu estou pronto a aceitar com o maior gosto o torneio.
- Pois na verdade atrever-se-ia...
- E porque não?
- Ainda assim, Deus me defendesse de tal; estava bem servida se fosse cantar consigo ao desafio... O Sr. Fernandinho, que tanto sabe... Eu decididamente ficava mal.
- Ficarias ou não; mas vamos a saber: estás pelo contrato?
- Qual contrato?
- Pelo das cantigas que há pouco trocámos?
Rosa, a esta inesperada pergunta, estremeceu involuntariamente, e um leve rubor lhe coloriu as faces; depois, encarando em Fernando um olhar sedutor, exclamou com essa franqueza tão característica, às vezes, nas filhas do povo:
- À fé de quem sou, lhe juro, Fernandinho, que, se o senhor fosse tão pobre como eu, aceitava...
- Então gostas de mim, Rosa?
- O senhor nunca me deu motivos para o contrário - respondeu a rapariga, baixando modestamente os olhos, como se aquela resposta a embaraçasse.