A ocasião desejada chegou enfim.
Uma tarde, Rosa, ou por acaso ou porque realmente sentisse a necessidade de desabafar as angústias do seu coração, aproveitara-se da saída da sua avó, que fora a casa de uma vizinha que se achava enferma, e viera, como antigamente, sentar-se, depois de terminado o trabalho, na soleira da porta, esperando desta vez com viva ansiedade a chegada de Fernando.
Este não se fez esperar por muito tempo, e, apesar da escuridão já crescente da noite, Rosa pôde distingui-lo ao longe, por entre as sombras que envolviam o caminho.
É escusado descrever os receios, os júbilos e os estremecimentos do coração da pobre rapariga ao lembrar-se do que iria passar-se naquela entrevista, da qual proviria talvez ou a sua desventura perpétua ou o começo da série de felicidades e enlevos que tinham feito as delícias dos seus sonhos virginais.
Passados momentos, Fernando aproximava-se da habitação, e, ao dar com os olhos no objeto dos seus constantes cuidados, não pôde calar no peito um grito de expansiva alegria.
- Bravo! - exclamou, correndo para ela - até que enfim pude pilhar-te, minha esquiva andorinha.
Rosa, que percebeu a intenção daquelas últimas palavras, procurou ainda encobrir e salvar a fraqueza do passo que tinha dado, e respondeu com mal simulada indiferença:
- Não sei donde provenha essa sua admiração, Fernandinho; como minha avó saiu há pouco para casa de uma vizinha que está bastante mal, vim para aqui enquanto ela não chega.
- Pois tu estás só, minha Rosa?!... - interrogou Fernando com júbilo. - Ó felicidade das felicidades!...
- Jesus, Sr. Fernando, - atalhou ela com dissimulação - parece que enlouqueceu! Não vejo motivo para tanta expansão.
- Cala-te, Rosa; tu não sabes que, desde a última tarde que estivemos neste mesmo lugar, tenho debalde procurado encontrar-te outra vez só, sem isso me ter sido possível?
- Mas eu não compreendo ainda para quê.