- Até lá, contudo, Fernandinho, é necessária toda a prudência nestas visitas noturnas. Pode muito bem suceder qualquer pessoa conhecê-lo, seguir-lhe os passos...
- Nada temas, Rosa; prezo-me de perspicaz e por isso dificilmente me poderão iludir.
- Olhe, esse vestuário que hoje traz é um pouco inconveniente, porque se torna com ele muito conhecido. porque não se disfarça de outra forma?
- Se é essa a tua vontade, amanhã vestir-me-ei de modo que nem tu própria me conhecerias, se me encontrasses. Estás satisfeita?
- Estou.
Houve alguns momentos de silêncio, que Fernando afinal cortou com estas palavras:
- Ah, minha Rosa, quando pensarias tu gozar estas horas de felicidade?
- Efetivamente... às vezes custa-me a acreditar como em tão pouco tempo pude tributar-lhe uma tão grande afeição!
- Nunca tinhas amado ninguém, Rosa?
- Nunca; ignorava até o que era esse sentimento.
- Admira; na aldeia há tantos rapazes...
- É verdade que os há, mas o que é certo é que me foram sempre todos indiferentes.
- Incluindo o António, o meu rival?
- A ele tive amizade, não o nego, mas esse sentimento era em tudo diverso daquele que ora nutro pelo Fernandinho: era uma amizade de irmãos... Ele também de tudo era merecedor...
- E nunca pensaste em que essa amizade de irmãos podia um dia transformar-se em paixão de namorados?
- Oh! isso nunca! Já lhe disse, Fernandinho, que nunca houve da minha parte tais intenções; era amiga dele, é verdade, mais do que de nenhum outro, mas essa amizade jamais poderia transmudar-se em amor!
- E já não lhe és tão afeiçoada?
- Não, não sou.
- E pode saber-se porquê?
- Por sua causa.
- Por minha causa?! Como?
- Depois que me falou tão inconvenientemente do senhor.