Não sucedeu, contudo, outro tanto ao jovem facultativo, que, ao fitar de longe a graciosa rapariga, exclamou meio assombrado, dirigindo-se a sua mãe, que estava próxima:
- Quem é aquela jovem loura, que está acolá? - e indicava a Rosa do Adro, que nessa ocasião se ria no meio de um grupo de raparigas.
- Oh! - respondeu a mãe de Fernando - pois tu não a conheces?
- Tenho ideias daquele rosto, mas não sei...
- É a Rosita do Adro.
- Pois na verdade aquela lindíssima rapariga é a Rosa do Adro?! - exclamou Fernando, não podendo ocultar a sua admiração.
- E, sim; mas que espanto é esse? Quem te ouvisse havia de dizer que tu não vens aqui há dez anos.
- Efetivamente encontro-a tão demudada, que decerto não a reconheceria se não mo dissessem. Há dois anos, quando cá estive, era uma criança, já encantadora, sim, mas agora encontro-a uma mulher perfeita!...
- Pois é o que vês; em verdade aquele corpo e aquela boniteza deitou-a ela há dois anos a esta parte; é a melhoria destes arredores e pena é ser tão pobre...
Fernando, desde aquele momento, não mais perdeu de vista a sedutora aldeã.
Ao toque da sineta, o povo entrou no templo, e Fernando, em todo o tempo que durou a cerimónia do santo mistério, não desfitou, sequer um momento, o olhar do rosto que tanto o impressionara.
Terminou a missa; o rapaz, ao sair, aproximou-se de Rosa, e com o sorriso nos lábios exclamou:
- Se há pouco não me dizem quem tu eras, Rosa, quase que não te conhecia.
- Porquê, Sr. Fernandinho? - perguntou ela.
- Porque, da última vez que estive aqui, eras tu uma criança, e venho agora encontrar-te uma mulher bela e encantadora como um serafim, capaz de endoideceres a cabeça a um velho, se lhe lançasses um desses olhares magnéticos.