Madame Bovary - Cap. 25: II Pág. 279 / 382

Emma deixava-o falar. Havia dois dias que andava terrivelmente entediada!

- Então já está completamente restabelecida? - continuava ele. Olhe que eu sempre vi o seu pobre marido bastante atrapalhado! É um excelente rapaz, embora tenha havido entre nós dois certas dificuldades.

Emma perguntou quais, pois Charles ocultara-lhe a contestação d fornecimentos.

- Mas a senhora bem sabe! - disse Lheureux. . Foi por causa das suas pequenas fantasias, as malas de viagem.

Lheureux puxara o chapéu para os olhos e, com as duas mãos atrás das costas, sorrindo e assobiando fixava-a de frente dum modo insuportável, Desconfiaria ele de alguma coisa? Emma sentiu-se perdida no meio de toda a espécie de apreensões. Por fim, ele prosseguiu: .

- Mas acabámos por nos entender e eu vinha ainda propor-lhe um arranjo.

Era reformar a letra assinada por Bovary. O doutor, aliás, agiria como lhe fosse mais cómodo; não precisava de se atormentar, sobretudo agora que iria ter uma série de embaraços.

- Até seria melhor para ele descarregar a responsabilidade sobre ou pessoa, sobre si, por exemplo; com uma procuração, seria simples, e então poderíamos fazer uns negociozinhos...

Emma não entendia. Ele calou-se. Em seguida, passando ao seu comércio, Lheureux declarou que a senhora não poderia deixar de lhe comprar qualquer coisa. Mandar-lhe-ia um barege preto, doze metros, o suficiente para um vestido.

- Esse que a senhora tem é bom para trazer por casa. Precisa de outro para as suas visitas. Foi uma coisa que eu logo vi quando entrei. Tenho olho para essas coisas.

Não mandou nenhum tecido, foi ele próprio levá-lo. Depois voltou para o medir; voltou ainda a outros pretextos, procurando, todas as vezes, tornar-se simpático, ser prestável, enfeudar-se, como diria Homais, e sempre insinuando a Emma alguns conselhos sobre a procuração.





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