Assinou a La Corbeille, revista feminina, e Le Sylphe des Salons. Devorava, sem perder nada, todas as notícias das primeiras representações, das corridas e das recepções, interessando-se pela estreia duma cantora, pela abertura de uma loja. Conhecia as modas novas, os endereços dos bons costureiros, os dias de Bosque ou de Opera. Estudou, em Eugene Sue, descrições de mobiliário, leu Balzac e George Sand, procurando neles uma maneira de saciar imaginariamente os seus apetites pessoais. Até para a mesa levava o seu livro e ia voltando as páginas enquanto Charles comia e falava com ela. A lembrança do Visconde reaparecia sempre nas suas leituras. Estabelecia comparações entre ele e as personagens inventadas. Mas o círculo cujo centro era ele foi-se alargando pouco a pouco à sua volta e aquela auréola que ele tinha, afastando-se da sua pessoa, estendeu-se para mais longe, iluminando outros sonhos.
Paris, mais vago que o oceano, cintilava assim aos olhos de Emma numa atmosfera cor de fogo. A multidão de vida que se agitava naquele tumulto dividia-se entretanto em diversas partes, era classificada em quadros distintos. Emma distinguia apenas dois ou três que lhe escondiam todos os outros e que, por si sós, representavam a humanidade inteira. O mundo dos embaixadores caminhava sobre soalhos lustrosos, em salões forrados de espelhos, em torno de mesas ovais cobertas de tapetes de veludo com franjas de ouro.