As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 12: XII Pág. 76 / 332

Havia um considerável monte de cobre e alguma prata, no meio da mesa, e montes parciais, mais ou menos bem providos, ao lado de cada jogador. A cada sorte, que se decidia entre um silêncio e ansiedade de suspender quase a respiração, seguia-se um vozear infernal, composto de exclamações de júbilo dos felizes e de pragas dos sacrificados.

O reitor assomou ao limiar da porta, em um desses momentos de tumulto. Discutia-se, quase tão desordenadamente como nas mais importantes sessões dos nossos parlamentos, a legalidade e inteireza da mão última de jogo.

A correr parelhas com a pouca moderação das palavras, só a das libações do vinho. Os copos vazavam-se e enchiam-se com rapidez pasmosa, e o taberneiro, a cada um que se despejava assim, traçava um sinal a giz na porta vermelha da cozinha.

O aparecimento do reitor causou sensação.

O primeiro movimento dos circunstantes, ao darem por ele, foi o de esconderem as cartas e o dinheiro; mas, na impossibilidade de o fazer a tempo, levantaram-se e, com ar de embaraço, tiraram o chapéu e abaixaram os olhos.

Houve um momento de silêncio, empregado por o reitor em reconhecer os delinquentes, e durante o qual estes não ousaram levantar os olhos.

- Não é o regedor, sosseguem - disse enfim o reitor ainda do limiar da porta - e pena é que o não seja, para vos meter a todos na cadeia. - E, adiantando-se na taberna, continuou: - Santa vida esta! Assim é que é ganhar o reino do céu! Sim, senhores! Aqui estão uns poucos de santos varões, que empregam bem o seu tempo! Respeitáveis e exemplares patriarcas, de quem muito se pode esperar como educadores da família! Sim, senhores! - E, mudando para tom mais severo: - Vossas mulheres estafam-se com trabalho, para dar um pouco de





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