A Rosa do Adro - Cap. 16: CAPÍTULO 17 Pág. 171 / 202

Tinha o rosto demasiadamente pálido e descamado, e de vez em quando os músculos contorciam-se-lhe como sacudidos por dores horríveis.

Apesar de a jovem ter penetrado no quarto com a maior cautela, Fernando, ao leve rumor dos passos, entreabriu os olhos e estacou-os naquela figura pálida e sofredora, qual imagem do martírio, e estendeu para ela os braços com ar suplicante e angustioso.

A desventurada rapariga, pela sua vez, ficara imóvel diante daquele olhar sem vida e daquele rosto inanimado, e a si própria parecia perguntar se tudo aquilo que via era real ou se estava sendo o ludíbrio de algum sonho terrível.

A voz enfraquecida do doente veio, porém, como que acordá-la daquele letargo.

- Anda cá, minha querida Rosa, deixa-me apertar-te uma vez mais ao meu peito - exclamou o rapaz, continuando a estender para ela os braços.

E Rosa, então esforço, correu para ele e cingiu-o com delírio ao coração, confundindo-se nesse momento dois beijos ardentes, como o deviam ser depois de tão longa ausência.

Permaneceram por muito tempo aqueles dois corpos assim estreitados, e os seus corações não cessaram um só momento de pulsar, inspirados por uma mesma ideia e movidos por um mesmo sentimento.

Ao cabo de alguns minutos de inebriante mudez, desenlaçaram-se daquele terno abraço, e Fernando, tomando entre as suas mãos o rosto, agora levemente purpureado, de Rosa, fitou-o com tristeza, exclamando em tom suplicante:

- Tu perdoas-me, não é verdade, minha Rosa?

- E terei eu de que perdoar-lhe? - respondeu a rapariga.

- Se tens, minha filha! Pois acaso não te fui levar ao coração o desespero e o sofrimento?...

- Oh! por quem é, Fernandinho, não me fale assim, que me mortifica.

- Então tu amas-me ainda, não é verdade?.





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