porque é que tanto forcejavas em ocultar-me o teu amor? Acaso duvidas de mim?
- Ouça, Fernandinho - respondeu a jovem com os olhos ainda marejados de lágrimas - , eu sou uma pobre rapariga, que tenho apenas, por únicos bens de fortuna, os meus braços; vivo do meu trabalho e, faltando-me ele, tornar-me-ei talvez tão desgraçada que morrerei à míngua, porque à minha querida avó já lhe faltam as forças com que poderia ajudar-me no granjeio do pão quotidiano. O Sr. Fernandinho, pelo contrário, é rico, é o morgado de uma casa que Deus beneficiou com avultados haveres, e, desta forma, que poderei eu esperar do senhor? Diz que me ama, que me tem uma amizade sincera, mas afinal que valerá isso se daqui a pouco me abandonará, para dar o seu coração e talvez até o seu nome a outra mais digna do que eu? É este o motivo porque tentei sempre afastar de mim o seu amor, e que me obrigou a ocultar-lhe até hoje o segredo mais íntimo da minha alma; por fim, como vê, não pude ser superior a mim própria; fui fraca de mais para poder vencer os impulsos do coração e confessei-lhe tudo. Conheço que sou indigna do seu amor; vejo até que cometi uma grande imprudência em o amar, porque é imensa a distância que nos separa. Mas a culpada, ainda assim, não fui eu... Oh, perdoe-me! Eu sou uma insensata...
- Que loucura a tua, Rosa! - atalhou Fernando. - Pois que fizeste tu para me pedires perdão? Não duvides sequer um momento da pureza dos meus sentimentos; não te arrependas desse amor que me votaste, porque todas as tuas dúvidas me mortificam e me desesperam. Dizes que não és digna dos meus afetos, que és pobre, e que um dia te trocarei por outra!... Como te enganas, minha pobre criança!... Pois