O Ingénuo - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 51 / 91

O que pensa o Ingénuo das peças de teatro

Assemelhava-se o Ingénuo a uma dessas árvores vigorosas que, nascidas num solo ingrato, distendem em pouco tempo az raízes e os ramos quando transportadas para terreno favorável; e era bastante estranho que esse terreno fosse uma prisão.

Entre os livros que ocupavam os lazeres dos dois cativos, havia poesias, traduções de tragédias gregas, e algumas peças do teatro francês. Os versos que falavam de amor encheram, ao mesmo tempo, a alma do Ingénuo, de prazer e sofrimento.

Todos lhe falavam da sua querida St. Yves. À fábula dos Dois Pombos cortou-lhe o coração: bem longe estava ele de poder regressar a seu pombal.

Moliere encantou-o. Fazia-lhe conhecer os costumes de Paris e do gênero humano.

- Qual das suas comédias preferes?

- O Tartufo, sem dúvida alguma.

- Penso o mesmo - disse Gordon. - Foi um tartufo quem me meteu neste calabouço e talvez sejam uns tartufos os que te desgraçaram.

- E que achas dessas tragédias gregas?

- Boas para os gregos - respondeu o Ingénuo.

Mas quando leu a Ifigênia moderna, Pedra, Andrômaca, Atalia, ficou num verdadeiro êxtase, suspirou, chorou, decorava-as sem querer.

- Lê Rodogune - recomendou-lhe Gordon. - Dizem que é a obra-prima do teatro; as outras peças, que tanto prazer te causaram, nada são comparadas com ela.

O jovem, logo à primeira página, lhe disse:

- Isto não é do mesmo autor.





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