- Jantar na mesa! - tinha dito imperiosamente o abade.
Jantou à tripa-forra, tomou café placidamente no caramanchel do jardim, mandou passear as filhas, e ficou palestrando com D. Clementina em assuntos alegres conducentes à elaboração de um bom quilo.
Em seguida, foi vendo os frutos vingados nas árvores, e conversando em termos brandos com a senhora, que lhe admirava o sossego, sem atrever-se a abrir-lhe oportunidade para falar da filha.
Deu ele azo perguntando a D. Clementina que lhe parecera Ricardina.
- Pobre pequena! - disse a medo a senhora.
- Bem pobre... - confirmou o abade.
Nisto, como o sol ainda apertasse, entraram num túnel de murtas e ciprestes, que não deixavam ao sol zebrar o chão apaulado, nem entrever para fora, onde se levantava em cerco um renque de faias entrelaçadas com olmeiros. E conversavam.
Norberto Calvo tinha visto as duas meninas no pomar. Ricardina estava chorando encostada ao seio de Eugénia. O criado não ousou perguntar a sua ama porque chorava. Afastou-se triste, e foi trabalhar no campo convizinho do túnel. Quando passava, ouviu a voz do abade. Aproximou-se de mansinho, movido pelo desejo de entender as lágrimas da sua adorada salvadora, e ouviu o seguinte:
- Estás enganada, Clementina. Eu não obrigo a filha a casar contra sua vontade; e também não consinto que ela case contra a minha. Estes extremos têm o termo média, que é não casar com o teu sobrinho nem com Bernardo Moniz. Não há pai mais indulgente. Outro qualquer dizia-lhe: “É para diante.” Eu não. Fique embora solteira; mas case-se com o divino esposo.
- Freira! - atalhou a senhora.
- Porque não? Freira, e o mais tardar um mês. Mas não freira à moda - freira delambida e derrancada de chichisbéus em grade.