- Juro, pelas Chagas de Cristo e de tudo quanto há!
- Há quanto tempo?
- Há quanto tempo?
- Sim.
- Há coisa de hora e meia.
D. Ricardina recuou e disse:
- Isto é uma zombaria, Alexandre!...
- Quem viria zombar da minha mãe? - acudiu o filho. - Olhe que Norberto diz a verdade.
- Pois tu viste o Sr. Bernardo... hoje?
- Há hora e meia... já disse, fidalga, e torno a dizer... E sabe que mais? Eu não sou de caixas encouradas... Ali o Sr. Alexandre também o viu. Pergunte-lho a ele, que sabe dizer as coisas melhor que eu.
- Alexandre! - clamou a senhora incendida e convulsa. - Alexandre, viste? Era teu pai quem te deu o retrato?
- Sim, vi... era o meu pai!... Agora choremos... choremos de felicidade, minha querida mãe!
- Mas eu queria vê-lo... leva-me onde ele está, meu amor! Vens tu também, Matilde? Vamos todos, vem Norberto; mas já... já, que eu não queria morrer sem vê-lo, e tenho medo... tenho medo de morrer... O coração parece que se me despedaça, meus filhos... Leva-me onde está teu pai... E ele porque não veio?... Porque não o trouxeste, Alexandre?
- Há dezasseis dias que ele entrava nesta casa, e a minha mãe nunca o viu.
- Ele? - conclamaram as duas senhoras.
- Sim: era Paulo de Campos... há vinte quatro anos que o seu nome era Paulo de Campos..
- E estava aqui, e o coração não mo disse... - exclamou Ricardina assombrada pela dúvida. - Não será ele?... Será isto uma ilusão?... Norberto, era o Sr. Bernardo Moniz quem aqui vinha?
- Ora se era! Ainda hoje de manhã eu cá vim com uma carta dele.
Alexandre saiu subitamente, desceu ao escritório, procurou a carta, apanhou uns cadernos escritos do punho do seu colaborador, voltou à saleta, e disse:
- Conhece esta letra, minha mãe?
- É do teu pai! É do teu pai!.