A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 196 / 524

No entanto, a estrutura de cada uma destas aves é boa para a própria ave, sob as condições de vida a que está sujeita, pois cada uma tem de viver através de uma luta; mas não é necessariamente a melhor condição possível entre todas as condições possíveis. Não se deve inferir destas observações que qualquer dos graus de estrutura alar a que aqui se aludiu, que talvez possam ter resultado todos do desuso, indicam as etapas naturais por meio das quais as aves adquiriram o seu perfeito poder de voo; mas servem, pelo menos, para mostrar quais os meios diversificados de transição possíveis.

Vendo que alguns membros de classes de animais que respiram na água, como os Crustacea e os Mollusca estão adaptados à vida em terra, e vendo que temos aves e mamíferos voadores, insectos voadores dos tipos mais diversificados, e que já tivemos répteis voadores, é concebível que os peixes voadores, que hoje planam grandes distâncias, subindo e desviando-se ligeiramente com a ajuda das barbatanas agitadas, se pudessem ter modificado, tornando-se animais perfeitamente alados. Se isto se tivesse realizado, quem poderia alguma vez imaginar que num estado transicional incipiente estes tinham sido habitantes do oceano aberto e tinham usado os seus órgãos de voo incipientes exclusivamente, tanto quanto sabemos, para evitar ser devorados por outros peixes?

Quando vemos qualquer estrutura altamente aperfeiçoada para qualquer hábito particular, como as asas de uma ave para voar, devíamos ter em mente que os animais que exibem graus transicionais incipientes da estrutura raramente continuarão a existir até aos dias de hoje, pois terão sido suplantados pelo próprio processo de aperfeiçoamento por meio de selecção natural. Além disso, podemos





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