A Origem das Espécies - Cap. 7: CAPÍTULO VI
DIFICULDADES ENFRENTADAS PELA TEORIA Pág. 195 / 524

Portanto, não vejo qualquer dificuldade, sobretudo em condições de vida variáveis, na preservação contínua de indivíduos com membranas laterais cada vez mais cheias, sendo cada modificação útil e propagada, até que pelos efeitos acumulados deste processo de selecção natural, se tenha produzido um chamado «esquilo voador» perfeito.

Veja-se agora o galeopiteco ou o lémure voador, que foi erroneamente classificado entre os morcegos. Tem uma membrana lateral extremamente ampla, estendendo-se dos cantos da maxila até à cauda, incluindo os membros e os dedos compridos: a membrana lateral está, além disso, equipada com um músculo extensor. Embora nenhuns elos estruturais gradativos, adaptados para planar, conectem hoje o galeopiteco com os outros lemurídeos, não vejo qualquer dificuldade em supor que tais elos existiram anteriormente e que cada um fora formado pelas mesmas etapas que no caso dos esquilos planadores menos perfeitos; e que cada grau de estrutura foi útil ao seu possuidor. Tão-pouco vejo qualquer dificuldade insuperável na crença adicional de os dedos e antebraço do galeopiteco, ligados por uma membrana, serem muito aumentados pela selecção natural; e isto, no que diz respeito aos órgãos de voo, convertê-lo-ia num morcego. Nos morcegos em que a membrana alar se prolonga do topo do ombro à cauda, incluindo as pernas traseiras, vemos talvez vestígios de um aparelho originalmente construído para planar em vez de voar.

Se cerca de uma dúzia de géneros de aves se tivessem extinguido ou fossem desconhecidos, quem se aventuraria a conjecturar que poderiam ter existido aves que usavam as suas asas unicamente como barbatanas, como o pato-de-asas-curtas (Micropterus de Eyton); como barbatanas na água e pernas dianteiras em terra, como faz o pinguim; como velas, como faz a avestruz; e sem qualquer propósito funcional, como a Apteryx.





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