A Origem das Espécies - Cap. 8: CAPÍTULO VII
INSTINTO Pág. 227 / 524

Afastei todas as formigas de um grupo de cerca de uma dúzia de afídeos numa la baça, e impedi durante muitas horas que as formigas se aproximassem. Depois deste intervalo, tive a certeza de que os afídeos queriam excretar. Observei-os durante algum tempo através de uma lente, mas nenhum excretou; então, titilei-os e afaguei-os da mesma maneira com um cabelo, tão bem como podia, como as formigas fazem com as antenas; mas nenhum excretou. Mais tarde, deixei que uma formiga os visitasse, e esta de imediato pareceu, pelo modo como corria impacientemente em volta, estar bem ciente do rico rebanho que descobrira; começou então a brincar com as antenas no abdómen de um dos afídeos primeiro e depois no de outro; e cada afídeo, logo que sentiu as antenas, levantou imediatamente o abdómen e excretou uma gota translúcida de suco doce, que a formiga devorou avidamente. Mesmo os afídeos bastante jovens se comportavam desta maneira, mostrando que a acção era instintiva e não o resultado da experiência. Mas como a excreção é extremamente viscosa, a sua remoção é provavelmente confortável para o afídeo; portanto, provavelmente, os afídeos não excretam instintivamente apenas para o bem das formigas. Embora eu não acredite que qualquer animal no mundo realize uma acção apenas para o bem de outro animal de uma espécie distinta, cada espécie procura tirar partido dos instintos das outras, tal como cada uma tira partido da estrutura corporal mais fraca de outros. Assim, mais uma vez, em alguns casos, certos instintos não podem ser considerados absolutamente perfeitos; mas como os detalhes sobre este e outros aspectos semelhantes não são indispensáveis, podemos aqui omiti-los.

Dada a indispensabilidade para a acção da selecção natural de um certo grau de variação nos instintos em estado de natureza e a hereditariedade de tais variações, deveria ter apresentado aqui tantos exemplos quanto possível; mas a falta de espaço não mo permite.





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