A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 285 / 524

Por outro lado, uma espécie num grupo resistirá por vezes a grandes mudanças de condições, com a fertilidade intacta; e determinadas espécies num grupo produzirão híbridos invulgarmente férteis. Ninguém sabe, antes de o experimentar, se qualquer animal particular procriará em cativeiro ou se qualquer planta em cultivo produzirá semente livremente; e tão-pouco sabe, até o tentar, se quaisquer duas espécies de um género produzirão híbridos muito mais livremente quando fertilizadas com o pólen de espécies distintas, do que quando autofertilizadas com o seu próprio pólen.

Vemos assim que, embora haja uma diferença clara e fundamental entre a mera adesão de castas enxertadas e a união dos elementos masculino e feminino no acto reprodutivo, há um paralelismo rudimentar nos resultados da enxertia e do cruzamento de espécies distintas. E dado termos de olhar para as curiosas e complexas leis que regem a facilidade com que as árvores podem ser enxertadas umas nas outras como dependentes de diferenças desconhecidas nos seus sistemas vegetativos, assim creio que as leis ainda mais complexas que regem a facilidade dos primeiros cruzamentos dependem de diferenças desconhecidas, principalmente nos seus sistemas reprodutivos. Estas diferenças, em ambos os casos, seguem até certo ponto, como seria de esperar, a afinidade sistemática pela qual se procura exprimir todo o tipo de semelhança e dissemelhança entre seres orgânicos. Os factos de maneira nenhuma me parecem indicar que a maior ou menor dificuldade de ou enxertar ou cruzar reciprocamente várias espécies foi uma dotação especial; ainda que, no caso do cruzamento, a dificuldade seja tão importante para a persistência e estabilidade das formas específicas como irrelevante para o seu bem-estar no caso da enxertia.





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