A Origem das Espécies - Cap. 9: CAPÍTULO VIII HIBRIDISMO Pág. 298 / 524

Por exemplo, penso que têm razão os autores que defendem que o burro tem um poder preponderante sobre o cavalo, pelo que tanto a mula como o macho se assemelham mais ao burro do que ao cavalo; mas que a preponderância é mais forte no macho do burro do que na fêmea, pelo que a mula, que é a prole do macho do burro e da égua, se assemelha mais a um burro do que o macho, que é a prole de uma fêmea de burro e de um garanhão.

Alguns autores dão bastante ênfase ao suposto facto de que só os animais mistos nascem perfeitamente semelhantes a um dos progenitores; mas pode-se mostrar que isto ocorre por vezes nos híbridos; porém, concedo que muito menos frequentemente com os híbridos do que com os mistos. Olhando para os casos que recolhi de animais de prole cruzada perfeitamente semelhantes a um progenitor, as semelhanças parecem principalmente limitadas a caracteres de natureza quase monstruosa e que surgiram subitamente - tais como o albinismo, o melanismo, cauda ou cornos deficientes, ou dedos adicionais; e não se relacionam com caracteres que foram lentamente adquiridos por selecção. Consequentemente, a probabilidade de ocorrer reversões súbitas para o carácter perfeito de um ou outro progenitor seria maior nos mistos, que descendem de variedades que frequentemente são produzidas subitamente e de carácter semimonstruoso, do que nos híbridos, que descendem de espécies produzidas lenta e naturalmente. Em geral, concordo inteiramente com o Dr. Prosper Lucas, o qual, depois de organizar um enorme conjunto de factos respeitantes a animais, chega à conclusão de que as leis de semelhança da cria com os seus progenitores são as mesmas, difiram os progenitores pouco ou muito entre si, nomeadamente na união de indivíduos da mesma variedade, ou de diferentes variedades, ou de espécies distintas.





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