A Origem das Espécies - Cap. 2: CAPÍTULO I
VARIAÇÃO SOB DOMESTICAÇÃO Pág. 34 / 524

Os criadores têm o hábito de falar na organização de um animal como algo completamente plástico, que podem moldar quase a seu bel-prazer. Se tivesse espaço, poderia citar para este fim numerosas passagens de autoridades muitíssimo competentes. Youatt*, que estava provavelmente mais familiarizado do que praticamente qualquer outro indivíduo com as obras dos agricultores, e que era ele próprio muito bom avaliador de animais, fala no princípio de selecção como «aquilo que permite ao agricultor não só modificar o carácter do seu rebanho mas transformá-lo completamente. É a varinha de condão do mágico, com a qual este pode dar vida a qualquer forma e molde que lhe aprouver». Lorde Somerville, referindo o que os criadores fizeram pelos carneiros, afirma: «É como se tivessem desenhado a giz numa parede uma forma perfeita em si, dando-lhe depois a existência.» Aquele habilíssimo criador, Sir John Sebright; costumava dizer a respeito dos pombos que «em três anos produziria uma pena qualquer, mas que demoraria seis anos para obter a cabeça e o bico». Na Saxónia, o reconhecimento da importância do princípio de selecção no que se refere ao carneiro merino é tal que se converteu em ofício: os carneiros são colocados sobre uma mesa e estudados como uma pintura por um especialista em arte; isto é feito três vezes com um intervalo de meses, e os carneiros são de cada vez marcados e classificados, de maneira que os melhores possam por fim ser seleccionados para procriar.

* William Youatt (1776-1847), veterinário inglês. Escreveu uma obra de referência sobre cães, The Dog, publica da em 1845. [N.T.]

O que os criadores ingleses efectivamente fizeram prova-se pelos preços exorbitantes pagos por animais com bom pedigree; e estes foram exportados para quase todas as partes do mundo.





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