Madame Bovary - Cap. 13: IV Pág. 125 / 382

Por causa de quem se comportava ela tão escrupulosamente? Não era ele o obstáculo a toda a felicidade, o motivo de toda a desgraça, como que o bico da fivela a travar aquela complexa correia que por todos os lados a amarrava?

Então voltou contra ele todo o ódio acumulado pelos seus aborrecimentos e cada esforço que fazia para o reduzir servia apenas para o aumentar, pois esse esforço inútil ia acrescentar-se aos outros motivos de desespero e contribuía ainda para maior afastamento. A sua própria docilidade l1e causava revolta. A mediocridade doméstica incitava-a a fantasias luxuosas; a ternura matrimonial, a desejos adúlteros. Preferia que Charles lhe batesse, para poder com mais justiça detestá-lo, vingar-se dele. Por vezes assustava-se com as atrozes conjecturas que lhe vinham à ideia; e era necessário continuar a sorrir, escutar as suas próprias repetições de que ele era feliz, fazer de conta que o era, dar a entender isso aos outros!

Enojava-se, entretanto, daquela hipocrisia. Tinha tentações de fugir com Léon para qualquer parte, muito longe, tentar um destino novo; mas agora se lhe abria na alma um abismo de confusão, cheio de negrume.





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