Madame Bovary - Cap. 15: VII Pág. 148 / 382

Aquela parecera-lhe bonita; pensava já nela e no marido.

«Ele parece-me muito estúpido. Ela com certeza já se cansou de o aturar, Ele traz as unhas encardidas e uma barba de três dias. Enquanto sai ;. cavalo para tratar dos doentes, fica ela em casa a passajar as meias. Com certeza que se aborrece, lhe dá vontade de viver na cidade, dançar a polca todas as noites! Pobrezita da mulher! Aposto que anseia pelo amor como uma carpa pela água em cima da mesa da cozinha! Com três palavras de galanteio, tenho a certeza de que até me adorava! Seria uma delícia! Que encanto!... Pois é, mas depois, como é que me vou ver livre dela?»

Então os obstáculos ao prazer, entrevistos em perspectiva, fizeram-no, por contraste, pensar na amante. Era uma actriz de Ruão, que ele tinha por sua conta; e, quando se deteve na imagem dela, da qual, até em pensamento, se sentia saciado, pensou:

«Ah! A mulher do médico é muito mais bonita do que ela, sobretudo mais fresca. Virginie já começa mesmo a ficar gorda de mais. E tão enfadonha com as suas alegrias! E, além disso, que mania aquela dos camarões»

O campo estava deserto e Rodolphe nada ouvia à sua volta senão o bater regular da erva de encontro às botas, juntamente com o estrilar dos grilos escondidos, ao longe, nos campos deaveia; revia Emma na sala, vestida como a tinha visto, e pôs-se a despi-la mentalmente.

«Há-de ser rninha!», exclamou, ao mesmo tempo que esmagava, com uma bengalada, um torrão de terra na sua frente.

Começou logo a examinar a parte prática do empreendimento. Perguntou a si mesmo:

«Onde é que nos vamos encontrar? Como é que há-de ser? Terá sempre a fedelha atrás dela, e a criada, os vizinhos, o marido, toda uma série de consideráveis complicações. Que maçada!», dizia ele, «com tudo isso perde-se tempo de mais!»

Mas depois voltava a considerar:

«É que ela tem uns olhos que penetram no coração como verrumas.





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