Madame Bovary - Cap. 17: IX Pág. 184 / 382

Emma levava a sua carta ao fundo do jardim, junto do rio, e metia-a numa fresta no terraço. Rodolphe ia lá buscá-la e no mesmo lugar metia outra, que ela acusava sempre de ser demasiado pequena.

Uma manhã em que Charles saíra antes do amanhecer deixou-se tentar la fantasia de ver Rodolphe naquele mesmo momento. Poderia chegar.um instante à Huchette, demorar-se lá uma hora e regressar a Yonville 51quanto todos estariam ainda a dormir. Esta ideia fê-la arder em desejos, logo se achou no meio do campo, caminhando a passos rápidos, sem olhar para trás.

O dia começava a despontar. Emma, de longe, reconhecia a casa do amante, onde dois cata-ventos em cauda de andorinha se recortavam .negro sobre o pálido crepúsculo.

Passado o pátio da granja, havia um bloco de habitações que devia ser = palacete. Entrou, como se as paredes, à sua aproximação, se tivessem afastado por si mesmas. Um grande lanço de escada dava acesso a um correr. Emma levantou o fecho duma porta e, no mesmo instante, viu no fun0 do quarto um homem adormecido. Era Rodolphe. Soltou um grito.

-Tu!, tu! - repetia ele. - Como conseguiste vir aqui? .. Olha! Tens vestido molhado!

- Amo-te! - respondeu ela, passando-lhe o braço em volta do pescoço. Depois do êxito desta primeira audácia, todas as vezes que Charles saía muito cedo, Emma vestia-se rapidamente e descia pé ante pé a escada que conduzia à beira da água.

Mas, se acontecia a prancha das vacas encontrar-se levantada, era necessário seguir ao longo dos muros que contornavam o rio; a margem era escorregadia, para não cair, ela agarrava-se às moitas de goiveiros secos depois atravessava os campos lavrados, onde se atolava, tropeçava e fazia força para despregar as batinas ligeiras. O lenço, amarrado sobre a cabeça, agitava-se ao vento ao passar pelos pastos; ela tinha medo dos bois largava a correr; chegava sem fôlego, as faces rosadas, exalando de toda a sua pessoa um fresco perfume de seiva, de verdura e de ar puro.





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