Madame Bovary - Cap. 11: II Pág. 96 / 382

Emma, assim que entrou no vestíbulo, sentiu cair-lhe sobre os ombros como que um pano húmido, o frio do reboco. As paredes eram novas e os degraus de madeira rangeram. Dentro do quarto, no primeiro andar, havia uma claridade lívida que entrava pelas janelas sem cortinas. Entreviam-se cimos de árvores e, mais longe, os prados, meio cobertos pelo nevoeiro, que, ao luar, parecia fumo ao longo do curso do rio. No meio do aposento, em confusão, estavam gavetas de cómodas, garrafas, varões de cortinados, vare tas douradas juntamente com colchões por cima de cadeiras e bacias no chão - tudo aquilo ali deixado a trouxe-mouxe pelos homens que haviam trazido os móveis.

Era a quarta vez que ela dormia num sítio desconhecido. A primeira fora no dia da sua entrada para o convento; a segunda, no dia da sua chegada a Tostes; a terceira em Vaubyessard, e a quarta ali; e cada uma delas representara na sua vida uma espécie de inauguração duma nova fase. Não acreditava que as coisas se pudessem apresentar da mesma maneira em lugares diferentes e, uma vez que a parte já vivida havia sido má, certamente haveria de ser melhor a que lhe restava para viver.





Os capítulos deste livro