As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 18: XVIII Pág. 125 / 332

João Semana - disse Joana rindo. - O frade havia de dizer semelhante coisa! Pois olhe, aqui está quem se perderia mais depressa por a maçã - acrescentou ela, pouco depois e preparando o café.

- Bem! - disse João Semana, ao concluir a sua refeição. - Estou como um abade! O pior é ter agora de sair para ir visitar a Sr.ª D. Leocádia.

- Sair, já? Isso tem tempo - acudiu a criada.

- Como? Pois ainda havia de as fazer esperar mais?

- Descanse ao menos um bocado. Está costumado a passar pelo sono, e, se o não faz, fica doente para todo o dia.

- Que remédio senão ter paciência!

- É um bocado mais.

- Nada, nada, não pode ser. Vou sair já - insistiu João Semana, procurando porém uma posição mais cómoda, com grave risco da resolução que exprimia. Joana percebeu este movimento e previu o que sucederia, se conseguisse entreter o amo cinco minutos mais. Não hesitou:

- Ainda se fosse para outra parte, não digo que não; mas para casa da D. Leocádia?... Eu já sei o que querem dizer aquelas pressas.

A D. Leocádia esta manhã, provavelmente, abriu a boca três vezes ou espirrou duas, e por isso imagina já que está a morrer.

Louvado seja Deus, nunca vi quem tenha mais medo de adoecer!

Uma coisa assim! Não é senhora de meter um bocado de pão na boca, sem perguntar ao cirurgião se lhe poderá fazer mal. Pois não se lembra daquela vez que o mandou chamar, porque tinha deixado de noite, por esquecimento, uma açucena no quarto, e pela manhã julgou que estava envenenada?

- É verdade - dizia João Semana, fechando os olhos e bocejando.

- Não era açucena, era uma bela... ah! ah! ah! ai... - isto foi um bocejo que o interrompeu, e com voz já mal percebida concluiu depois: - era uma beladona.

- Ou isso.

Joana espiando, como médico atento, estes sintomas, prosseguiu:

- Esta gente parece de vidro.





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