As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 24: XXIV Pág. 168 / 332

- Dize: não é, não, senhor - ensinou-lhe o pai.

- Não é - repetiu a criança.

- É, é...

- Não é, vossemecê é que...

- Ah! - atalhou o velho. - Feia! isso não se diz.

- Tu sabes adivinhas, Rosa? - perguntou Daniel, rindo.

- Sei.

- Sim, senhor - corrigiu ainda outra vez o velho.

- Ora vamos lá a uma adivinha.

A pequena não se fez rogar.

- Então diga lá o que é esta:


Altos castelos
Verdes e amarelos

- Isso é decerto a casa de um brasileiro - respondeu Daniel.

A criança pregou-lhe uma risada, e, toda satisfeita, exclamou:

- Boa! É uma laranjeira.

- Ah! Ninguém havia de dizer. Vá lá outra.

- Que é, que é, que


Alto está, e alto mora,
Todos o vêem e ninguém o adora?

Daniel ergueu a cabeça, a fingir que meditava no enigma; viu que o pai da pequena lhe fazia não sei que sinal com o dedo.

Seguindo a direcção, que lhe pareceu indicada assim, Daniel parou a vista em um pinheiro longínquo, e disse:

- É um pinheiro.

Pai e filha deram uma risada.

- É um sino! - disse a pequena.

- Pois nem viu que eu apontava para a torre?

- E esta? - continuou a criança:


Mil marinhinhos, mil marinhões,
Dois parafitas e quatro chantões?

- Isso agora é que tem mais que se lhe diga! Que língua vem a ser essa? Marinhinhos e marinhões, e que mais? que mais?...

- É um boi, é um boi - respondeu a rapariga, a quem faltava a paciência para ver estar a pensar muito tempo.

- Um boi! sempre quero saber como é que isso é um boi. Mil marinhinhos, um boi?

- Mil marinhinhos, são os pêlos.

- Ah!... E mil marinhões?

- São os pêlos maiores - respondeu o pai.

- Dois parafitas são as gaitas - continuou a filha.

- Então, provavelmente, os quatro chantões.





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