As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 25: XXV Pág. 170 / 332

XXV

Pedro era caçador e dos apaixonados. Dizendo eu isto, já o leitor, se não é um homem fadado por Deus para felicidades excepcionais cá na terra, deve imaginar em qual assunto falaria ao irmão o primogénito de José das Dornas.

De facto, quem haverá aí que, por mais de uma vez, não tenha visto irem-se-lhe duas horas seguidas, pelo menos, duas horas de tempo precioso, a escutar uma dessas intermináveis descrições e episódios de caça, de astúcias de galgos e perdigueiros, de singularidades de tiros; de manhas de lebres, galinholas, garças e perdizes, com que Nemrods desapiedados fazem cair sobre seus irmãos em Adão todo o peso da sua paixão venatória?

Ao princípio acolheu Daniel de bom grado a nova diversão que lhe oferecia o assunto, ao qual não era de todo adverso também. As duas primeiras aventuras de caça, escutou-as com não afectada atenção.

Tratava-se de uma caçada de lebres, na qual Pedro obrara maravilhas com a coadjuvação de um cão, de que ainda agora sentia saudades.

Era um longo romance, que daria para muitos capítulos. Permitam- me que lhes registe aqui ao menos o argumento, o qual, mutatis mutandis, serve para todos os do mesmo género.

De como se originou o projecto da caçada - O que se disse por essa ocasião - Escolha da época - Princípios gerais que devem guiar o caçador nessa escolha - Descrição da partida - Enumeração e descrição dos caçadores - Apreciação filosófica de suas qualidades venatórias - Divagação sobre os dotes indispensáveis ao bom caçador - Condições meteorológicas da madrugada, no dia da surtida - Reflexões sobre a influência delas nos destinos prováveis da empresa - Esboço topográfico do campo de acção - Impaciência dos cães - Sinais característicos de um cão





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