Então, vamos, prometes não dizer nada?
- Guida, Guida! O que me pedes é impossível. Seria um grande pecado, se eu deixasse assim a outra expiar a falta que é toda minha.
- Clarinha não vês que, doutra sorte, causas a desgraça de tantos?
Clara levou as mãos às faces e calou-se.
Neste tempo o reitor entrara de mansinho na sala. Pousara o chapéu e a bengala e pusera-se a contemplar as duas irmãs, que lhe não sentiram a entrada.
Passado algum tempo de silêncio, Clara levantou de novo a cabeça e, com voz lacrimosa, exclamou:
- Pois deverei aceitar este sacrifício, meu Deus?
- Deves - respondeu o reitor, adiantando-se. - É necessário respeitar as inspirações dos anjos como este! - e apontava para Margarida. - Eu também hesitei, ao princípio, mas, depois que julguei melhor, resolvi obedecer-lhe. Minha filha, o que se passou na noite de ontem, tem-no por um aviso do céu. Dá graças a Deus, por te não haver abandonado a tua boa estrela e faze por nunca mais incorrer em um perigo daqueles. Mas aceita; não é só a tua felicidade que recebes do sacrifício de tua irmã, é a de Pedro e a de uma família inteira, é a da própria sacrificada; pois não é assim, Margarida?
- Se for preciso que lho peça de joelhos… - respondeu a bondosa rapariga.