Que importa lá a miséria que vai por casa, se não falta dinheiro para o vinho e para o jogo. Isso é o que se quer! E tu - acrescentou voltando-se para o taberneiro que, detrás do mostrador, assistia calado a toda esta cena: - tu vais engordando à custa destas misérias todas. Passam fome as mulheres e as crianças, para te encher as gavetas e a barriga! Ó santo Deus! - e tanta desgraça, que por aí vai, e tanta gente sem pão para comer!
- Essa é boa! O meu ofício é vender vinho, vendo-o; faço o meu dever - resmungou o taberneiro despeitado.
- Fazes o teu dever, enchendo com outro tanto de água as pipas do vinho que vendes? e permitindo em tua casa estes costumes proibidos pelos homens e amaldiçoados de Deus? - estes jogos infernais, que têm levado tantas cabeças à forca, e tantas almas ao inferno? É esse também o teu ofício? Pois deixa estar que eu avisarei o regedor, para que te dê a recompensa, por o bem que o cumpres.
O taberneiro não redarguiu.