A Ilha Misteriosa - Cap. 18: CAPÍTULO VII Pág. 106 / 186

De facto, custava muito a crer que, após onze anos de absoluta solidão, só há coisa de poucos meses o homem tivesse atingido o estado de selvajaria em que o haviam encontrado... Era óbvio que o desgraçado estava assim há muito mais tempo, assim como também era óbvio, pelo estado do papel e pelo brilho da tinta, que a mensagem era recente... Então, quem poderia ter escrito a mensagem?

- Ora aqui temos nós um verdadeiro mistério! - disse o engenheiro, com uma serenidade que contrastava com a perturbação dos companheiros. - Mas na vida tudo tem uma explicação lógica... Em tempo devido o saberemos.

Spilett percebeu que o amigo já tinha qualquer ideia sobre o assunto, mas evitou fazer comentários. Cyrus prosseguiu:

- Agora temos muito mais com que nos ocuparmos. E peço-lhes que não insistam com o nosso novo companheiro para ele falar... Quando ele quiser, nós cá estamos para o ouvir.

Nos dias que se seguiram, o desconhecido não voltou a pronunciar palavra e manteve-se afastado, entregue ao seu trabalho na horta do planalto. De resto, era ali que comia e dormia, apesar de os colonos insistirem para que ficasse na Casa de Granito.

Estes quase que esqueciam a existência da misteriosa criatura, porque coisas para fazer é que não faltavam. A colheita de trigo era uma delas! Com efeito a "seara" de Pencroff aquele primeiro grão lançado à terra, conforme os leitores estarão lembrados - germinara e multiplicara-se, produzindo quatro mil alqueires logo na segunda colheita! Agora, dezoito meses depois, a seara de trigo ocupava um talhão considerável do planalto e a colónia podia considerar satisfeitas as suas necessidades de cereal para o fabrico de pão.

A última quinzena de Novembro foi inteiramente dedicada à moagem do trigo, para se obter farinha.





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