A Rosa do Adro - Cap. 18: CAPÍTULO 19 Pág. 200 / 202

António, logo que saiu do quarto do padre, dirigiu-se à sala da biblioteca, sentou-se a uma escrivaninha, pegou num a folha de papel onde lançou apressadamente algumas linhas, dobrou-a em forma de carta, sobrescritou-a e deixou-a sobre o mesmo sítio, saindo em seguida pela porta que dava para a quinta e desaparecendo em pouco tempo por entre os arvoredos frondosos que a coalhavam.

António não apareceu ao jantar, com o que o padre pareceu afligir-se bastante, e, segundo o seu costume quotidiano, dirigiu-se depois à biblioteca, onde passava algumas horas entregue à leitura. Ao aproximar-se, porém, da escrivaninha, deparou com a carta, cujo sobrescrito lhe era dirigido. Lançou mão dela, leu-a, e, ao passo que corria os olhos por aquelas linhas o rosto empalidecia-lhe de momento a momento, e afinal caiu como extenuado sobre uma cadeira, exclamando em tom desesperado e apertando entre as mãos aquele papel que parecia conter horríveis revelações:

- Desgraçado!...

A carta dizia o seguinte:

"Sr. Padre Francisco:

Quando ler esta carta, já eu terei deixado de existir. Suicido-me porque não tenho ânimo bastante para arrostar com os remorsos dos meus crimes.

Ocultei-lhe as minhas intenções sinistras; não lhe revelei, sequer, o inferno em que ardia a minha alma depois dessa terrível noite, porque não me atrevi a fazer-lhe uma tal confissão, e porque estou certo que a sua maldição cairia sobre a minha cabeça. Fernando, o esposo da minha irmã, foi vítima de um trama que lhe urdi, e fui eu próprio que o assassinei com o auxílio de mais dois cúmplices a quem comprei com todo o dinheiro que possuía.

O que me levou à perpetração de um tal crime foi o demónio do ciúme, esse amor infernal que senti sempre pela minha irmã, sem saber então que o era.





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