A Rosa do Adro - Cap. 6: CAPÍTULO 6 Pág. 34 / 202

Sabia que Rosa já amava muito o seu rival, mas não tanto. Aquela revelação tão franca, tão clara, sentiu fugir-lhe a derradeira esperança, deixou pender a cabeça, sem sequer ter forças para fugir da mulher que lhe tinha talvez, desde esse momento, envenenado toda a existência, e assim permaneceu por muito tempo, não se atrevendo a encarar aquele rosto que vira ainda há pouco tão demudado pela exaltação de um amor ardente, incrível.

Rosa, passado o primeiro ímpeto, quase se arrependeu amargamente do mal que havia produzido com a sua resposta precipitada, e teria decerto cedido aos impulsos da sua bondosa alma, pedindo perdão ao atribulado rapaz, se não o visse repentinamente levantar para ela o olhar magoado e entreabrir os lábios para falar.

Efetivamente, António, depois de travar consigo uma luta desesperada, procurou acalmar as angústias que lhe torturavam o coração e, em tom quase suplicante, exclamou:

- Perdão, Rosa, se te ofendi, mas não era esse o meu intento; deves convencer-te de que as minhas palavras não são mais do que um vivo reflexo dos bons sentimentos que nutro por ti. Se eu não temesse uma desgraça!... Assalta-me um triste pressentimento.

- Pressentimento!?... E de quê? - perguntou Rosa com curiosidade.

- Não sei... mas vaticina-me o coração que Fernando nunca será digno do teu amor; é quase impossível que ele te ame como mereces!

- Como te enganas, meu António! Era preciso nunca o ter visto, nunca o ter ouvido, para assim pensar; Fernando ama-me com desinteresse, e esse amor tornar-nos-á a ambos completamente felizes. Ele assim mojurou.

- Palavras vãs, coisas que se dizem, mas que se não sentem. E, mesmo que assim fosse, por muito que ele te ame, o seu amor não será mais sincero e desinteressado do que o meu; além disso, ele é rico e aspirará também a uma esposa que o seja igualmente.





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