Quanto a ti, pobre Rosa, o seu único fim é perder-te... e depois abandonar-te...
- António!... - exclamou a rapariga, começando de novo a agastar-se.
- Vamos, não te zangues. Eu bem sei que estas verdades são amargas e que soam mal a um coração apaixonado; mas, afinal, quais são as garantias que possuis de que não suceda o que prevejo? Comigo, bem sabes, não se dariam esses receios porque te quero pura e santamente; além disso, as nossas sortes são quase iguais: tu és pobre e eu também o sou; a minha única ambição, pois, era unir-me a ti, partilharmos juntos da nossa pobreza, mas vivermos, apesar disso, felizes, como felizes vivem os anjos do Céu. Tu, porém, não o entendes assim; tens mais altas ambições, porque sabes o que vales... Olha, minha Rosa, acredita nas palavras desse baldevinos e verás como ele te recompensará tanto amor!... Prevejo-te um fim bem triste!...
- Basta! - interrompeu Rosa, vermelha de cólera - nem mais uma palavra! Ouvi-te silenciosa, sim, mas com raiva e o desespero no coração, por tantas insolências; vejo que o despeito e o egoísmo é que te fazem assim falar; mas que me importa isso? Acaso quererás obrigar-me a deixar esse rapaz, em tudo muito diferente de ti e de todos esses teus companheiros, incapazes de compreenderem sequer a mais leve pulsação de uma alma como a que sinto agitar-se sob este seio? Pois bem... Já que a tanto me obrigaste, ouve: Nunca te amei como talvez julgaste; dei-te sempre a preferência a todos os outros rapazes, porque te tinha amizade de irmã, porque quase fomos criados juntos, e também porque te extremas bastante de todos esses rapazes da aldeia; essa amizade, porém, é que nunca se transformou em amor, nem tal poderá suceder, porque... Deus não o quer. Quanto a Fernando, amo-o como se pode amar nesta vida; quero-lhe mais que à minha própria existência, e este sentimento, que nasceu tão rápido no meu coração, nunca poderá extinguir-se.