A Rosa do Adro - Cap. 6: CAPÍTULO 6 Pág. 42 / 202

- Acaso darias crédito às sandices desse miserável, ralado de ciúmes e de despeito?

- Oh, não, não o acreditei - respondeu a rapariga. - Confio muito no seu amor, Sr. Fernando, para que duvide sequer um momento...

- Ainda bem. Mas diz-me: qual é a causa dessa tua consternação'?

- Nem eu mesma o sei. Esse pobre rapaz, antes de o Sr. Fernando chegar, já me tinha dito tanta coisa...

- Provavelmente tudo no teor do que acabo de ouvir.

- É verdade; conquanto as suas palavras não pudessem operar em mim senão tédio e despeito, ainda assim algumas delas impressionaram-me profundamente!...

- Imagino a quanto o teria levado o seu desespero; mas diz-me ainda: antes de mim era ele o teu namorado?

- Não, Sr. Fernando, nunca nos declarámos a mais leve afeição; no entanto tratava-o com mais urbanidade do que a nenhum outro, e foi isso decerto o que o fez persuadir que eu lhe tinha um verdadeiro amor. Enganou-se completamente.

- Outra pergunta: posso saber os motivos que se davam para essas provas de deferência?

- Motivos muito simples: em primeiro lugar porque, como o Sr. Fernandinho sabe, fomos criados quase juntos, e em segundo porque notei sempre nele alguma coisa que o distinguia de todos os outros rapazes da aldeia: possui uma certa inteligência, tem maneiras agradáveis, enfim, reúnem-se nele qualidades que o extremam da maioria da gente do campo. - Também eu notei isso mesmo ainda há pouco. Não é vulgar encontrar aldeões que se exprimam como ele. Viveu algum tempo na cidade?

- Não, Sr. Fernando, nunca saiu destes sítios. Este rapaz ficou, segundo dizem, órfão de pai e mãe, de tenra idade. O Sr. padre Francisco teve pena dele, levou-o para sua casa e deu-lhe uma boa educação, ensinando-o a ler e escrever, e tencionando até ordená-lo padre.





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