Apocalipse - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 82 / 180

Por isso não nos admira encontrar a mise-en-scêne da visão voltada do avesso, depois da experiência de Ezequiel e Daniel, com o mobiliário do templo judaico empurrado para primeiro plano, mais os 24 anciãos ou presbíteros que já não sabem muito bem quem são mas tentam ser tão judeus quanto possível, e por aí fora. Vêm do cosmo babilónico o mar que parece um bloco de vidro, as luminosas águas do céu que contrastam com as águas amargas ou mortas do mar terreno; mas têm, claro está, que ser metidas numa taça, a pia do templo. Tudo o que for judaico é interior. Até as estrelas do céu e as 'águas do puro firmamento devem ser postas ao abrigo das cortinas daquele tabernáculo ou templo abafado.

Não sabemos, porém, se foi realmente João de Patmos quem deixou a visão inaugural do trono, das quatro criaturas estreladas e dos 24 anciãos ou testemunhas, na confusão em que a encontramos, ou se editores subsequentes, com um verdadeiro espírito cristão, danificaram deliberadamente o plano. João de Patmos era judeu, não dava muita importância ao facto de ser ou não ser imaginável a sua visão. Apesar disso sentimos que os escribas cristãos despedaçaram o modelo «para ser seguro». Os cristãos querem tornar sempre «as coisas seguras».





Os capítulos deste livro