De qualquer modo, foi difícil fazer o livro entrar na Bíblia: os padres do Oriente opuseram-se violentamente a isso. E, assim, não podemos espantar-nos por as figuras pagãs terem, bem à maneira de Cromwell, os narizes e as cabeças arrancados para «as tornar seguras». Tudo quanto podemos agora fazer, é lembrar que o livro talvez tenha um núcleo pagão; que foi rescrito antes da época de Cristo, porventura mais do que uma vez, por judeus apocaliptas; que João de Patmos talvez tenha voltado uma vez mais a rescrevê-lo para torná-lo cristão; e depois disso escribas e editores cristãos fizeram-lhe emendas para «torná-lo seguro». Talvez tivessem andado a remendá-lo durante mais de um século.
Uma vez admitido que os símbolos pagãos foram mais ou menos distorcidos pela mentalidade judaica e por cristãos iconoclastas, que o templo judaico e os símbolos ritualistas foram arbitrariamente introduzidos para os céus caberem dentro do precioso tabernáculo israelita, podemos fazer uma ideia muito razoável da mise-en-scêne, da visão do trono com os animais cósmicos em louvação e do Kosmokrator oculto por um arco-íris e cuja presença tem à volta a glória prismática que resplandece como um arco-íris e uma nuvem: «a Iris também é uma nuvem».