Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 11: II

Página 91

Homais pediu licença para conservar o seu barrete grego, com medo das constipações.

Depois, voltando-se para a sua vizinha:

- A senhora deve estar com certeza um tanto moída? A nossa Andorinha sacode-nos de maneira terrível!

- É verdade - respondeu Emma -, mas as mudanças divertem-me sempre; gosto imenso de variar de sítio.

- É uma coisa muito aborrecida - suspirou o escriturário - viver amarrado sempre aos mesmos lugares!

- Se o senhor fosse, como eu - disse Charles -, continuamente obrigado a andar a cavalo...

- Ora essa - retorquiu Léon, voltando-se para a Sr." Bovary -, parece-me que não há nada mais agradável; quando se pode - acrescentou.

- Aliás - dizia o farmacêutico -, o exercício da medicina não é muito penoso na nossa região; porque o estado das estradas permite o uso do cabriolé e, geralmente, pagam bastante bem, visto que os lavradores são abastados.

De tempos a tempos temos aqui, do ponto de vista médico, além dos casos vulgares de enterite, bronquite, afecções biliosas, etc algumas febres intermitentes na altura das colheitas mas, em resumo, poucos casos graves, nada de especial a assinalar, a não ser bastantes humores frios, relacionados, sem dúvida, com as deploráveis condições higiénicas das habitações dos nossos camponeses. Oh! Encontrará muitos preconceitos para combater, Sr. Bovary; muitas teimosias rotineiras com que se defrontarão todos os dias os esforços da sua ciência; porque aqui ainda se recorre mais facilmente às novenas, às relíquias, ao padre, do que, naturalmente, ao médico ou ao farmacêutico. O clima, no entanto, não se pode dizer que seja mau, e até temos cá na comuna alguns nonagenários. O termómetro (observações feitas por mim) desce no Inverno até quatro graus e na estação quente chega aos vinte e cinco, trinta graus centígrados, quando muito, o que nos dá vinte e quatro Réaumur no máximo, ou seja, cinquenta e quatro Fahrenheit (medida inglesa), e não ultrapassa isso! Efectivamente, estamos abrigados dos ventos do norte pela floresta de Argueil, por um lado, e, por outro, dos ventos do oeste pela encosta de Saint-Jean; e este calor, no entanto, que devido ao vapor de água liberto pelo rio e à presença considerável de animais nas pastagens, que exalam, como sabe, muito amoníaco, isto é, azoto, hidrogénio e oxigénio (não, só azoto e hidrogénio), e que, chamando a si o húmus da terra, misturando todas estas emanações diferentes e reunindo-as, por assim dizer, num único feixe, e combinando-se a si mesmo com a electricidade espalhada na atmosfera, quando é o caso, poderia, com a continuação, como nos países tropicais, dar origem a miasmas insalubres - este calor, dizia, acha-se justamente temperado do lado donde vem, ou, antes, donde viria, quer dizer, do sul, pelos ventos de sudeste, os quais, tendo-se refrescado a si mesmos com a passagem sobre o Sena, nos chegam por vezes repentinamente, como brisas da Rússia!

- Haverá, ao menos, alguns lugares bons para passear aqui pelos arredores! - continuava a Sr.

<< Página Anterior

pág. 91 (Capítulo 11)

Página Seguinte >>

Capa do livro Madame Bovary
Páginas: 382
Página atual: 91

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
PRIMEIRA PARTE – I 1
II 12
III 22
IV 29
V 36
VI 40
VII 46
VIII 54
IX 66
SEGUNDA PARTE – I 79
II 90
III 97
IV 112
VI 126
VII 140
VIII 150
IX 175
X 186
XI 196
XII 209
XIII 224
XIV 234
XV 246
TERCEIRA PARTE – I 255
II 271
III 282
IV 285
V 289
VI 307
VII 325
VIII 339
IX 357
X 366
XI 373