As Pupilas do Senhor Reitor - Cap. 12: XII Pág. 75 / 332

Apertando entre o indicador e o pólex o lábio inferior e com o olhar imóvel, próprio das profundas abstracções de espírito, conservou- se por bastante tempo irresoluto, entre o prosseguir a sua visita com as mãos vazias, e o transferir para outra vez o complemento dela.

Nem um nem outro alvitre lhe agradavam porém.

De vez em quando, tornava a procurar nas algibeiras, a ver se lhe passara desapercebida alguma pequena moeda, que o tirasse de maiores dificuldades. Mas nada lhe valia a pesquisa.

Enfim levantou-se; radiava-lhe a fisionomia com um ar de resolução, como se afinal lhe ocorrera o pensamento desejado; e foi já com andar firme e decidido que continuou o seu caminho, murmurando consigo mesmo não sei que palavras pouco perceptíveis, acompanhadas às vezes de certa mímica de mãos.

Depois de trezentos passos, pouco mais ou menos, dados assim, achou-se o reitor defronte de uma casa branca, cujas funções eram bem indicadas pelo ramo de loureiro que pendia à porta e pelo coro de vozes, e ruído de gargalhadas e juras, que vinham do interior dela.

O padre tomou a direcção desta casa.

Não o surpreendeu o espectáculo que presenciou, porque o esperava.

Alguns lavradores e homens de ofício, sentados à volta de uma banca de madeira, e todos formidavelmente munidos de grandes copos de vinho, estavam recebendo ali simultâneas as comoções da beberronia e do jogo de parar. Cada um eles seguia de olhos atentos as evoluções do baralho de cartas, moído e sebento, que um banqueiro, igualmente dotado desta última qualidade, executava com a prestidigitação de consumado artista; o ardor do ganho, e a recíproca desconfiança que os animava, rompiam ainda através dos densos nevoeiros que pareciam toldar aquelas vistas avinhadas.





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