A Rosa do Adro - Cap. 16: CAPÍTULO 17 Pág. 173 / 202

É isto o que se chama amor; abnegação completa de todos os gozos do mundo; desprendimento total de todas as vaidades terrenas, e um só sentimento, uma só prece, um só anelo de felicidade para aquele por quem nunca deixou de estremecer a corda mais sensível da alma, e por quem, ainda além do túmulo, não deixaria de bater o coração.

- Obrigado, Rosa, obrigado! - exclamou Fernando com transporte. - Não te conhecia bem; julguei-te uma trivialidade, e és sublime, inacreditável até, nos teus afetos.

- Fiz unicamente o meu dever de mulher, para quem o amor não é um cálculo nem uma aspiração mesquinha, mas um dom grandioso que nasce no coração, puro de toda a mácula.

- Pois bem, minha querida filha, ainda é tempo de remediar o mal feito e de recompensar os teus elevados dotes; quero desposar-te.

- Desposar-me, Fernando! Acaso endoideceu? Pois na verdade pensa em unir-se a um semi-cadáver quando a poucos passos daqui está um ente que lhe é querido, e que o seu coração escolheu?... Oh! nunca, nunca!

- Recusas, Rosa? Pois queres deixar-me morrer com um peso horrível na minha consciência? Compreendo-te agora, e, se não me engano nas minhas tristes apreensões, confesso-te que escolheste uma vingança terrível!...

- Fernando, Fernando, que diz?... - exclamou a pobre rapariga, trémula de espanto.

- Vês o deplorável estado em que estou - continuou Fernando, parecendo ligar pouca importância às palavras de Rosa - conheces que a existência se me esvai pouco a pouco como os grãos de areia que da praia as ondas levam; crês que a nossa união não te pode fazer agora realmente feliz, porque a morte virá cortar bem depressa os laços que nos prenderam; em vista disto, pois desejas mostrar-te também superior aos teus sentimentos e ver estorcer-me nos últimos momentos de vida, num a dor horrível - o remorso.





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