A Rosa do Adro - Cap. 18: CAPÍTULO 19 Pág. 196 / 202

.. Deolinda... A minha avó... adeus até à eternidade... Despeçam-se... por mim... dos pais... do meu mar...

A voz extinguiu-se-lhe na garganta; relanceou ainda um terno olhar de despedida para sua avó e para Deolinda, pendeu a cabeça, as pálpebras cerraram-se-lhe, e o coração deixou de bater.

Deolinda, que a sustivera durante esse tempo nos braços, ergueu os olhos inundados de lágrimas para o céu, e exclamou para os circunstantes:

- Orem pela alma desta santa mártir... Rosa morreu.

E, movidas por um mesmo instinto, todas as testemunhas desta triste cena ajoelharam e murmuraram as orações dos mortos.

Deolinda, no entretanto, elevando o pensamento para Deus, exclamava:

- Grande Deus!... Vós que me escolhestes para testemunha do triste desenlace deste drama, disponde da minha alma, porque para mim morreram todas as afeições deste mundo: amei-os a ambos como se pode amar na Terra... Esses dois entes tão queridos quiseste-los Vós para a vossa santa companhia: recebei-me também agora no vosso seio, porque a vida para mim não será mais do que uma pesada cruz... Ah! Fernando, Fernando, como tu foste amado!...

No dia seguinte ao do falecimento da Rosa do Adro, o padre Francisco achava-se no seu quarto, recostado na cadeira de couro costumada e com a cabeça abandonadamente reclinada sobre a mão, como se um pesar qualquer o oprimisse.

Afinal, depois de alguns momentos de muda preocupação, lançou mão de uma pequena campainha que lhe estava próxima, agitou-a, e, à aparição de uma velha criada, disse simplesmente:

- O António que venha aqui falar-me.

A criada retirou-se, e poucos momentos depois entrou o rapaz.

Vinha com o rosto desfigurado, os olhos sumidos e a cara pendida para a terra, como se vergasse ao peso de uma grande dor.





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