A Rosa do Adro - Cap. 9: CAPÍTULO 9 Pág. 69 / 202

O padre, depois de o ouvir distraidamente, respondeu-lhe com a afabilidade costumada, e o jovem ia já a retirar-se, quando o padre Francisco, parecendo refletir, exclamou:

- Ó António, vem cá.

O modo como foi feito este chamamento pareceu contrariar um pouco o rapaz, o que contudo não o impediu de obedecer imediatamente, vindo de novo postar-se em frente do seu protetor.

- Ora responde-me ao que vou perguntar-te, mas cautela com alguma mentira - continuou o bom do velho com ar grave e parecendo ao mesmo tempo querer penetrar com a vista o fundo do seu coração. De há um pouco de tempo a esta parte tenho notado em ti uma certa melancolia que me tem dado que pensar; do quanto dantes eras alegre e jovial, tornaste-te agora triste, acabrunhado, todo metido em ti, e parece até que desgostoso da vida. Diz-me com franqueza: quais são os motivos dessa tua tristeza?

António, a esta pergunta tão inesperada, sentiu-se embaraçado e apenas balbuciou:

- Eu, Sr. Padre Francisco... não tenho motivo algum para viver desgostoso; provavelmente o senhor engana-se.

- Vamos, António, não faltes à verdade. Acaso tentarás negar uma coisa que eu vejo? O que é que te aflige?

- Pois bem, responder-lhe-ei como deseja: há um motivo poderoso, efetivamente, que me tem roubado a alegria do coração e me traz a alma torturada. O que, porém, lhe peço, Sr. Padre Francisco, é que não procure saber qual o motivo dos meus males, para não me obrigar a corar de vergonha, se lho confessar. Respeite este meu segredo!...

- Um segredo! - atalhou o sacerdote com algum agastamento. - Pois tu ousas ter segredos para o teu melhor amigo, para o teu pai adotivo, para a tua única família, enfim, que sou eu?... Ah, António, a ingratidão é o pior defeito que podemos ter, e a dedicação e amizade que parecia consagrares-me, creio que degenerou nela.





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