O Ingénuo - Cap. 1: Capítulo 1 Pág. 3 / 91

Falava francês de um modo bastante inteligível. Ofereceu água de Barbados à senhorita de Kerkabon e ao senhor seu irmão; bebeu com ambos; fê-los beber de novo; e tudo isso com um ar tão simples e natural que o irmão e a irmã ficaram encantados. Ofereceram-lhe seus préstimos, perguntando-lhe quem era e aonde ia. O jovem lhes respondeu. que não sabia ao certo, pois era um simples curioso que quisera saber como eram as costas de França e que, como ali chegara, logo se retiraria.

Julgando, pelo seu acento, que ele não era inglês, tomou o prior a liberdade de lhe perguntar qual o seu país de origem.

- Eu sou hurão - respondeu-lhe o jovem.

A senhorita de Kerkabon, espantada e encantada de ver um hurão que a cumulara de atenções convidou o jovem para jantar; este não se fez de rogado e dirigiram-se os três para o priorado de Nossa Senhora da Montanha.

A miúda e rechonchuda senhorita não tirava dele os seus olhinhos e dizia de vez em quando ao prior:

- Esse rapagão tem uma pele de lírio e rosas! Que bela tez para um hurão!

- Tens razão, minha irmã - dizia o prior.

Ela fazia cem perguntas seguidas, a que o viajante sempre respondia com toda a justeza.

Logo se espalhou o rumor de que havia um hurão no priorado. A alta sociedade do cantão apressou-se em comparecer. O padre de St. Yves veio acompanhado da senhorita sua irmã, jovem baixa-bretã, muito bonita e muito bem-educada. O bailio, o recebedor de impostos e suas respectivas mulheres não faltaram à ceia. Colocaram o estrangeiro entre a senhorita de Kerkabon e a senhorita de St. Yves.





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