O Ingénuo - Cap. 11: Capítulo 11 Pág. 49 / 91

Assim, condenaram os referidos linóstolos várias frases do capitão, e baixaram um édito.

- Como! - exclamou o Ingénuo. - Essa gente a baixar éditos?!

- Não eram éditos - replicou Gordon, - eram contraéditos, de que todo o mundo ria em Constantinopla, a começar pelo imperador: era este um sábio príncipe que soubera reduzir os apedeutas linóstolos a mão fazerem senão o bem. Sabia que esses senhores e vários outros pastóforos haviam esgotado a paciência de seus predecessores, à força de contraéditos, em matéria mais grave.

- Fez muito bem - disse o Ingénuo. - Cumpre apoiar os pastóforon e contê-los.

Pôs por escrito muitas - outras reflexões que espantaram o velho Gordon. "Consumi cinquenta anos em instruir-me - dizia ele consigo - e teimo não poder atingir o natural bom senso deste menino quase selvagem! Parece-me que apenas consegui fortalecer laboriosamente os preconceitos, ao passo que ele só escuta a simples natureza".

Tinha ele alguns desses opúsculos de crítica, dessas brochuras periódicas onde homens incapazes de produzir o quer que seja denigrem as produções dos outros, onde os Visé insultam os Racine, e os Faydit os Fénelon. O Ingénuo percorreu alguns desses livrecos. "Comparo-os - dizia ele - a certas moscas que vão desovar no traseiro dos mais belos cavalos: isso não os impede de correrem". Os dois filósofos mal se dignaram a lançar os olhos sobre esses excrementos da literatura.





Os capítulos deste livro