O Ingénuo - Cap. 13: Capítulo 13 Pág. 57 / 91

Mas como conduzir-se em Versalhes? Jovem, bela, sem conselho, sem apoio, desconhecida, exposta a tudo, como atrever-se a procurar um guarda do rei? Pensou em dirigir-se a um jesuíta de baixa categoria; havia-os para todas as condições da vida, tal como Deus, diziam eles, dera diferentes alimentos às diversas espécies de animais. Dera ao rei o seu confessor, a quem todos os solicitadores de benefícios chamavam o chefe da igreja galicana; em seguida vinham os confessores das princesas; os ministros não os tinham: não eram tolos para isso. Havia os jesuítas do vulgo, e principalmente os jesuítas das criadas de quarto, pelas quais se sabiam os segredos das patroas, e que não era pequeno cargo. A bela St. Yves dirigiu-se a um destes últimos, que se chamava o padre Tout-à-tous. Confessou-se a ele, expôs-lhe suas aventuras, seu estado, seu perigo, conjurando-o a alojá-la em casa de alguma boa devota, que a pusesse a abrigo das tentações.

O padre Tout-à-tous a acomodou na casa da mulher de um oficial da copa, uma das suas mais fiéis penitentes. Logo de chegada, apressou-se em ganhar a confiança e amizade dessa mulher; informou-se acerca do guarda bretão, a quem mandou chamar. Tendo sabido por ele que o seu amado fora preso depois de falar com um primeiro secretário, dirigiu-se à casa deste: a vista de uma bela mulher o abrandou, pois cumpre confessar que Deus só criou as mulheres para domesticarem os homens.

O funcionário, enternecido, confessou-lhe tudo.

- O seu enamorado está na Bastilha há cerca de um ano, e, se não fosse a senhorita, ele talvez ficasse por lá toda a vida.





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