O governador, que estimava o prisioneiro, mostrou-se muito satisfeito com a liberação. Seu coração não estava endurecido como o de alguns honrados carcereiros seus confrades, que, só pensando nos proventos que lhe traz a guarda dos cativos, baseando as rendas nas suas vítimas e vivendo da desgraça alheia, sentiam em segredo uma horrenda alegria com as lágrimas dos desgraçados.
Mandou trazer o prisioneiro a seu gabinete. Os dois enamorados dão com os olhos um no outro e desmaiam. A bela St. Yves permaneceu longo tempo sem movimento e sem vida: o outro logo se refez.
- Pelo que vejo, é a senhora sua esposa - disse-lhe o - governador. - O senhor não me havia dito que era casado. Sei que é à sua generosa interferência que deve o senhor a liberdade.
- Ah! eu não sou digna de ser sua esposa - disse a bela St. Yves com voz trêmula, e desmaiou de novo.
Quando voltou a si, apresentou, sempre trêmula, o certificado da gratificação e a promessa, por escrito, de uma companhia. O Ingénuo, tão espantado como enternecido, despertava de um sonho para cair em outro.
- Por que fui encerrado aqui? Como pudeste libertar-me? Onde estão os monstros que me perseguiram? Tu és uma divindade baixada do céu em meu auxílio.
A bela St. Yves baixava o olhar, depois fitava o amado, enrubescia, e logo desviava os olhos húmidos de pranto. Contou-lhe afinal tudo o que sabia e tudo o que experimentara, exceto aquilo que desejaria ocultar a si mesma para sempre e que qualquer outro que não o Ingénuo, mais acostumado ao mundo e mais a par dos costumes da Corte, teria logo adivinhado.