O Ingénuo - Cap. 18: Capítulo 18 Pág. 74 / 91

- Será possível que um miserável como esse bailio tenha tido o poder de arrebatar-me a liberdade? Ah! bem vejo que com os homens acontece o mesmo que com os mais desprezíveis animais: todos podem causar dano. Mas será possível que um monge, um jesuíta confessor do rei, tenha contribuído para o meu infortúnio tanto quanto o bailio, sem que eu possa imaginar sob que pretexto me perseguiu esse detestável tratante? Fez-me passar por jansenista? E como te foste lembrar de mim? Eu não o merecia, eu não passava então de um selvagem. E pudeste, sem conselho, sem auxílio, ir até Versalhes! Lá apareceste, e quebram-se as minhas cadeias! Há, pois, na beleza e na virtude um invencível encanto que faz tombarem as portas de ferro e abrandarem os corações de bronze!

A esta palavra virtude, escaparam soluços à bela St. Yves. Não sabia o quanto era virtuosa no crime de que se acusava.

O Ingénuo assim continuou:

- Ó anjo que rompeste os meus grilhões, se tiveste bastante influência (o que eu ainda não compreendo) para obrigar a me fazerem justiça, intercede para que também a façam a um velho que me ensinou a pensar, como tu me ensinaste a amar. A desgraça nos uniu; estimo-o como a um pai; não posso viver sem ele, como não posso viver sem ti.

- Que eu vá pedir ao mesmo homem que...!

- Sim, quero dever tudo a ti, e só a ti: escreve a esse homem poderoso, cumula-me de teus benefícios, termina o que começaste, completa os teus prodígios.





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