Mas um hurão adulto de vinte e dois anos não estava no mesmo caso de uma criança, a quem se regenera sem que esta fique sabendo coisa alguma. Era preciso doutriná-lo, e isso parecia difícil; pois o abade de St. Yves supunha que um homem que não nascera na França não podia ter senso comum.
O prior observou à companhia que, se de fato o Ingénuo, seu sobrinho, não tivera a ventura de nascer na Baixa Bretanha, nem por isso deixava de ter espírito, o que se poderia avaliar por todas as suas respostas, e que sem dúvida a natureza muito o favorecera, tanto do lado paterno como do materno.
Perguntaram-lhe primeiro se ele já tinha lido algum livro. Respondeu que lera Rabelais traduzido em inglês e alguns trechos de Shakespeare que sabia de cor; que tinha encontrado esses livros com o capitão do navio que o trouxera da América para Plymouth, e que muito lhe haviam agradado. O bailio não deixou de interrogá-lo sobre os referidos livros.
- Confesso - disse o Ingénuo - que julguei adivinhar qualquer coisa, e não entendi o resto. A estas palavras, o padre de St. Yves refletiu que era assim que ele próprio sempre havia lido, e que a maioria dos homens não lia de outro modo.
- Com certeza já leu a Bíblia, não? - perguntou ele ao Ingénuo.
- Absolutamente, senhor padre; não estava entre os livros do meu capitão, nem nunca ouvi falar nisso.
- Eis como são esses malditos ingleses - gritava a senhorita Kerkabon. - Farão mais caso de uma peça de Shakespeare, de um plumpunding e de uma garrafa de rum do que do Pentateuco.