Começou pelos ternos abraços do tio e da tia.
O padre de St. Yves quase se lançara aos joelhos do Ingénuo, que não era mais o Ingénuo. Os dois enamorados falavam-se com olhares que exprimiam todos os sentimentos que os dominavam. Na face de um brilhava a satisfação, o reconhecimento; nos olhos de outro, ternos e preocupados, lia-se o embaraço. Espantavam-se do que ela pudesse mesclar desgosto a tanta alegria.
O velho Gordon se tornou em poucos momentos estimado de toda a família. Tinha sido infeliz com o jovem prisioneiro, e isso era um grande título. Devia ele sua libertação aos dois enamorados, e isto bastava para reconciliá-lo com o amor; abandonava-o a rigidez das antigas convicções; achava-se, como o hurão, transformado em homem. Cada um contou suas aventuras antes da ceia. Os dois padres e a tia escutavam como crianças que ouvem histórias de fantasmas, e como humanos que se interessavam todos por tantas desgraças.
- Há provavelmente - dizia Gordon - mais de quinhentas pessoas virtuosas que se acham agora nas mesmas cadeias que a senhorita de St. Yves quebrou: suas desgraças são desconhecidas. Encontram-se muitas mãos para bater na multidão dos infelizes, e raramente uma que os socorra.
Essa reflexão tão verdadeira lhe aumentava a sensibilidade e o reconhecimento; tudo encarecia a vitória da bela St. Yves; todos admiravam a magnitude e firmeza de sua alma. À admiração juntava-se esse respeito que a gente, sem querer, dedica às pessoas com influência na Corte.