O cargo de confessor, que por muito tempo exerci, fez-me conhecer o íntimo das famílias; não vi quase nenhuma que não estivesse mergulhada na amargura, muito embora, afivelando a máscara da felicidade, parecessem nadar em alegria, e sempre notei que os grandes desgostos eram fruto da nossa desenfreada cupidez.
- Quanto a mim - disse o Ingénuo, - penso que uma alma nobre, reconhecida e sensível pode viver feliz; e conto desfrutar de uma felicidade sem nuvens com a bela e generosa St. Yves. Pois espero - acrescentou, dirigindo ao irmão desta um amistoso sorriso - que não ma recusarás, como o ano passado, e garanto que me portarei com mais decência.
O padre desmanchou-se em desculpas quanto ao passado e em protestos de eterna amizade.
O tio Kerkabon disse que seria aquele o mais belo dia da sua vida. A boa tia, extasiada e chorando de júbilo, exclamava:
- Bem te dizia eu que nunca havias de ser subdiácono; este sacramento vale mais que o outro; prouvera a Deus que eu fosse honrada com ele! Em todo caso, te servirei de mãe. E cada qual porfiava em louvar a adorável St. Yves.
O Ingénuo tinha o coração bastante compenetrado de tudo a que a St. Yves fizera por ele, e muito a amava para que a aventura dos diamantes pudesse desvanecer tudo o mais. Mas estas palavras que não deixara de ouvir, tu me dás a morte, ainda o aterravam secretamente e lhe corrompiam toda a alegria, ao passo que os elogios à sua querida aumentavam ainda mais o seu amor.