Nenhuma língua possui expressões que correspondam àquele auge do sofrimento; são muito imperfeitas as línguas.
A tia, quase sem vida, sustentava nos frágeis braços a cabeça da moribunda, o tio estava de joelhos ao pé do leito. O noivo apertava-lhe a mão, que banhava de lágrimas, e rompia em soluços; chamava-a sua benfeitora, sua esperança, sua vida, metade de si mesmo, sua senhora, sua esposa. A essa palavra esposa, ela suspirou, olhou-o com inexprimível ternura, e de súbito lançou um grito de horror. Depois, num desses intervalos em que a prostração e o enfraquecimento dos sentidos, e as dores suspensas, deixam à alma toda a sua liberdade e força, ela exclamou:
-.Eu, tua esposa! Ah! meu querido, esse nome, essa felicidade, esse prêmio não eram mais para mim; eu morro, e o mereço. O deus de meu coração, que eu sacrifiquei aos demônios infernais, tudo está acabado, eis-me punida, e possas tu viver feliz. Essas apaixonadas e terríveis palavras, não podiam ser compreendidas, mas lançavam em todos os peitos o horror e a comoção; ela teve a coragem de explicar-se. Cada palavra fazia os assistentes fremirem de espanto, de dor a de piedade. Todos confraternizavam para execrar o homem poderoso que só reparara uma injustiça com um crime, e que forçara a mais venerável inocência a ser sua cúmplice.
- Tu, culpada? - exclamou o noivo. - Não, tu não és culpada; o crime só pode estar no coração, e o teu cotação pertence à virtude e a mim.