Prazins, uma rapariga muito alva, magrinha, de cabelo atado, muito limpa, com a sua saia de chita amarela com dois folhos, jaqueta de fazenda azul com o forro dos punhos escarlates, muito séria com propósito de mulher e ares muito sonsos - diziam as outras, que lhe chamavam a songuinha. Os outros estudantes, rapazolas vermelhaços, refeitos, grandes parvajolas, com grandes nacos de boroa nas algibeiras das véstias de saragoça de varas, e os vemos Virgílio ensebados em saquitos de estopa suja, diziam graçolas a marta - chamavam-lhe boa pequena, franga e peixão. O José dias, arredado do grupo dos trocistas alvares, via-a passar silenciosa, indiferente aos gracejos, olhos no chão, e um grande resguardo na barra da saia quando subia a escada. Os rapazes, aqueles embriões de abades, como a escada de pedra era íngreme e aberta do lado do quinteiro, punham-se a espreitar as pernas das alunas da paralítica, pela maior parte raparigas entre doze e dezasseis anos, muito musculosas, com pés grandes e os tecidos repuxados e cheios pelo exercício dos carretos nas safras da lavoura.
Marta ia nos catorze quando o pai a quis tirar da mestra. Chegara-lhe aos ouvidos que os estudantes, má canalha, lhe impeticavam com a filha.
Queixou-se a frei roque. O egresso, resfolegando honradas cóleras e pulverizações de esturrinho, mandou enfileirar os gargajolas na quadra da aula, e chamou a marta.
- Qual foi destes tratantes o que implicou contigo. Cachopa? - perguntou o padre-mestre olhando-a por cima dos óculos, orbiculares, com as hastes oxidadas de um cobre antigo. E, apontando para o primeiro da fileira que era o José de Vilalva:
- Foi este?
- Esse nunca me disse nada - respondeu com a voz trémula, toda vermelha, a rapariga.
- Foi este?
Marta não ergueu os olhos nem respondeu.