Procurar livros:
    Procurar
Procurar livro na nossa biblioteca
 
 
Procurar autor
   
Procura por autor
 
marcador
  • Sem marcador definido
Marcador
 
 
 

Capítulo 12: CAPÍTULO XI

Página 103
obra de cheta, um trolha inspirado que já tinha pintado um painel das alminhas, onde havia almas do sexo fraco com grandes tetas lambidas por labaredas, e um rei coroado com a boca aberta ao acto de berrar queimado, e tamanha boca que só cedia à de um bispo mitrado, muito empertigado, com o seu báculo. O trolha ensaiara o entremez, e não entrava, porque lhe tinha morrido o pai, havia quinze dias, contava ele a um senhor de fora, desconhecido, que tinha vindo com o galã, o filho do estalajadeiro da póvoa.

O veríssimo foi admitido aos camarins, onde estavam sentados, em caixas de milho e na salgadeira, os figurantes à espera da sua vez, já vestidos. Viam-se os personagens do entremez. Matilde, amante de Alménio, uma ingénua, a protagonista da peça, a doente namorada, que levou o pai a trazer-lhe a casa o amante, o médico fingido. Este papel fora confiado a um latagão oficial de carpinteiro, com os pulsos cabeludos e os nós dos dedos com umas protuberâncias calosas que pareciam castanhas piladas antigas. Nas maçãs do rosto mascarrara duas zonas de carmim, que pareciam a distância umas chagas de mendigo de romaria aperfeiçoadas. Trajava um vestido de cetim branco da fidalga velha de rio caldo, feito em 1824 para um baile que houve em braga aos anos de D. João vi. O peito chato do carpinteiro ficava à altura dos quadris da fidalga, e as clavículas espipavam as ombreiras do corpete, prendendo os movimentos ao desgraçado Matilde. Posto que a cena fosse a casa de Astolfo, pai da doente fingida, a velhaca estava de chapéu de palhinha com enorme telha enconchada e plumas brancas muito amarelecidas do mofo. O vestido era-lhe curto, mas lucravam com isso as pernas, que se deixavam ver até acima do jarrete, cingidas de fitas cruzadas que subiam de uns sapatos de duraque sem tacões, feitos de propósito e em concordância com os ângulos reentrantes e salientes dos pés.

<< Página Anterior

pág. 103 (Capítulo 12)

Página Seguinte >>

Capa do livro A Brazileira de Prazins
Páginas: 202
Página atual: 103

 
   
 
   
Os capítulos deste livro:
INTRODUÇÃO 1
CAPÍTULO I 9
CAPÍTULO II 15
CAPÍTULO III 21
CAPÍTULO IV 32
CAPÍTULO V 46
CAPÍTULO VI 52
CAPÍTULO VII 59
CAPÍTULO VIII 67
CAPÍTULO IX 74
CAPÍTULO X 84
CAPÍTULO XI 101
CAPÍTULO XII 113
CAPÍTULO XIII 121
CAPÍTULO XIV 130
CAPÍTULO XV 141
CAPÍTULO XVI 157
CAPÍTULO XVII 166
CAPÍTULO XVIII 173
CAPÍTULO XIX 182
CAPÍTULO XX 190
CONCLUSÃO 196